Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Fukanzazengui - Parte 7.
“...Já que esses antigos sábios eram tão diligentes, como podem os praticantes dos dias atuais deixarem de praticar zazen?...”
Os ‘antigos sábios’, de que trata o texto são os ancestrais.
Os antigos sábios possuíam tanta realização advinda da prática ininterrupta do zazen que várias são as passagens.
Para o Mestre Dogen, os "antigos sábios" foram, entre outros, os patriarcas Bodidarma, Eno, Obaku, Hyakujo e Rinzai.
Tem uma passagem do Shobogenzo, onde Mestre Dogen fala desses mestres:
‘Obaku era um Buda antigo, além do tempo, muito superior a Hyakujo e muito mais fino que Baso. Rinzai, em comparação, era bem pequeno’.
Então segundo Dogen, Obaku era ‘superior a Hyakujo’, ‘mais fino’ que Baso e pertencia a uma categoria mais elevada que Rinzai.
Então, Obaku era o ‘Cara’ o ‘Best of the best’ (imagino a expressão que a sensei vai fazer ao escutar isso, ainda bem que ela não costuma nos bater...)
Ele viveu em uma época de forte repressão ao budismo pelo Imperador.
O zen não era particularmente visado porque os monges nada possuíam, nem dinheiro nem mosteiros, mas apenas velhos templos onde praticavam zazen.
Obaku sempre que podia debochava dessa repressão.
Existe uma passagem com o Mestre Obaku onde podemos perceber a sua força.
O príncipe Senso praticava no mesmo local que Obaku.
Um dia em que Obaku fazia fudosampai (três prostrações), o príncipe Senso lhe pergunta:
- Porque você se prostra diante dos Três Tesouros? Para que servem os rituais quando devemos estar desapegados de tudo?
Obaku se levanta e lhe dá uma bofetada, Tcham!
O príncipe Senso, com a face corada, fala com a voz indignada:
- Então é assim que se manifesta um ser desperto?!
Obaku lhe dá uma segunda bofetada, Tchum!
- Realmente você é muito grosseiro! Diz o príncipe Senso.
Obaku lhe desfere uma terceira bofetada – Tcha!  e retruca:
- Que tal essa, lhe parece grosseira ou refinada?
É importante que se saiba que Obaku tinha quase o dobro da estatura do príncipe. Então podemos imaginar que cada tapa deve ter doído pacas.
Consta que a graças a força da última bofetada, o príncipe Senso obteve uma grande percepção.
Obaku, naquela época ainda era um discípulo. Na data do ocorrido, ele era shuso do templo.
Levando-se em conta que Obaku não era o mestre de Senso e que este era nada mais nada menos que o filho do imperador da China e que iria suceder o trono, vamos combinar que distribuir-lhe bofetadas não era um bom meio de obter favores da hierarquia.
Essa passagem demonstra claramente que Obaku não era um monge comum, exatamente por isso Dogen o respeitava tanto.
Apenas como ilustração: Mestre Eka, era um açougueiro. Doshin, dormia com as vacas. Eno, o sexto patriarca rasgava os sutras (existe um quadro famoso onde se pode vê-lo em plena ação). Eno, dizia que a verdade não se encontra no papel mesmo que, apesar disso, seja importante compreender o que nele está escrito.
Nos dias de hoje, o gesto de Eno seria tomado como vandalismo e o tapa de Obaku uma agressão.
Não fazemos mais zazen como antigamente, por isso somos tão fracos...
Fazemos meia horinha de zazen uma vez por dia e achamos que está bom demais...
A maioria pratica apenas uma ou duas vezes por semana.
Isso em falar de modismos como o da menina ao lado.
Que possamos nos lembrar do mestre que mandou seus alunos continuarem a praticar mesmo depois que uma parte do teto do templo caiu.

 

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