Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Fukanzazengui - parte 4

O Caminho já existe em nós mesmos. Não nos outros. Não em outro lugar.
Aquilo que Dogen quis dizer é:
Porque seria necessário acrescentar o que quer que seja a nós mesmos?
O Caminho tudo penetra, logo não há nenhuma necessidade de procurar nada.
Mestre Dogen, quando ainda praticante no templo Tendai no Monte Hiei, tinha aquela grande dúvida.
Ele era aluno do Mestre Koin, abade do templo Tendai.
Naquela época ele não pensava, como escreveria mais tarde, que ‘o Caminho é fundamentalmente perfeito e que ele tudo penetra’.

“... O Caminho está completamente presente onde você está...”
Só podemos estar aqui, neste momento, vivendo a situação, percebendo nossas ações e reações diante de cada momento da vida.
Meu filho, quando me viu fazendo as contas do que tinha que pagar e da insuficiência de dinheiro para tal, disse:
- Nossa pai! Seria bom se você não tivesse nada disso para resolver, eu respondi:
- Ao contrário filho, é sensacional poder vivenciar esse momento, cada situação que se apresenta, pois cada ocorrência na verdade é uma forma diferente de praticar.
Observar meu impulso e meu sentimento ao perceber que não tenho dinheiro suficiente para pagar todas as contas, não é uma maravilha...
Poder conversar com a moça que me liga todos os dias cobrando as contas não pagas, não é fantástico.

“... O Caminho está completamente presente onde você está, então qual a necessidade de prática e de iluminação?...”
O Caminho, a trilha, a senda, está na nossa frente, em cada ato, em cada pensamento, em cada palavra, em cada reação, em cada passo dado, seja para onde for.
A prática é treinar para viver cada momento desses de forma maravilhada, como se cada coisa fosse única.
Outro dia vi um filme (Jogos mortais), a película baseia-se nesta mesma premissa: Você realmente vive uma vida plena...
Me lembrei de uma música: ’É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, pois na verdade não há...’ (Legião Urbana)
Me lembrei de outra: ‘Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo passará...’ (Lulu Santos)
Prática é saber disso, iluminação é viver isso intensa e completamente.

“...Contudo, se no início houver a menor diferença entre você e o Caminho, o resultado será uma separação maior do que aquela entre o céu e a terra...”
Basta um milésimo de segundo e a dualidade aparece.
Se você está sentado em zazen mas sua mente se perde no passado ou no futuro.
Pronto! Foi tudo por água abaixo.
“Perdeu a mente, perdeu a vida”, dizia meu saudoso e falecido professor de Karate Teruo Furusho, do qual fui aluno por 39 anos, sempre que me percebia divagando durante o treinamento.
Dizia ele: ‘Imagine se você for atacado exatamente nesse momento de distração? O que acha que acontecerá? Não se perca nos pensamentos nem nas lembranças, não gaste seu precioso tempo planejando um futuro que ainda não chegou. Viva apenas o presente, nada mais’.
Se uma distância da espessura de um fio de cabelo é criada, nos separamos da vida, nos separamos do Buda.
A relação entre Buda e nós é ‘não-dois’ – ‘não dois’, ‘mas um’, e, finalmente, ‘nem mesmo um’.
Não há mais subjetivo, nem sujeito, nem objeto.
Em japonês tem um palavra que se chama sho shin – significa: Mente de principiante.
Se no início existir uma pequenina diferença, perde-se o Sho Shin, então mil quilômetros separarão Buda de você.
Gonyo (um dos discípulos de Joshu), um dia, disse a seu mestre:
- Estou aqui com nada. Que devo fazer em tal situação?
Joshu que era um mestre muito paciente e doce, simplesmente respondeu:
- Jogue fora! (este ‘Jogue fora!’ é semelhante ao ‘nenhum espelho, nenhuma poeira’ de Eno ‘Hui Neng’).
Gonyo não compreendeu o que queria dizer seu mestre:
- Acabei de dizer que não tenho nada! O que posso jogar fora?
Joshu, que não pretendia ser malicioso, nem intelectual, e ainda menos brilhante, simplesmente respondeu:
- Jogue fora isso também! Joga tudo fora!
O espírito de Gonyo estava tão separado quanto o céu da terra.
O zen não tem traços, não tem cheiro, não tem rédeas. Se alguém diz que está iluminado, certamente não está.
Disse o Buda: ‘Quando despertei, o mundo inteiro despertou comigo’
Não havia mais separação, apenas unidade...

Aguardem a próxima parte 

Nenhum comentário:

Postar um comentário