Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

sábado, 26 de novembro de 2011

Parte 3
Muito bem! Vamos ao Sutra.
Como parte da prática da Tradição Soto Zen, regularmente recito esse sutra, mas nunca me detive a fim de estudá-lo minuciosa e detalhadamente, apesar de nutrir por ele grande afinidade.

Então vamos lá.
Budha Sakyamuni foi um personagem histórico real, Kanzeon (Avalokitesvara) não foi (é). Esse Bodisatva é manifestação da enorme compaixão do Budha para todos os seres. É a personificação de seu incondicional amor universal por todos, conforme iremos constatar ao longo do nosso estudo.

Outro sutra que recito diariamente é o Sutra do Coração da Grande Sabedoria Completa (Maka Hanya Haramita Shingyo). Ele começa com as palavras Kanji Zai Bo Satsu Gyo, que significa numa tradução livre “O Bodisatva da Verdadeira Compreensão e Compaixão”, aquele que compreende tudo, que percebe tudo, que vê a raiz do sofrimento de todos os seres, que escuta os lamentos do mundo. Este Bodisatva é kanzeon, ou Kannon, como é comumente chamado no Japão.

Separando os radicais da palavra Kanzeon.
Kan - Observar profundamente, ver a raiz, o essencial, ter uma visão ampla.
Ze - O mundo, a vida, os fenômenos.
On - O som, a voz.
Kanzeon é aquele ou aquela, que observa profundamente os sons do mundo, que sente os sofrimentos de todos os seres, que compreende a raiz profunda desses sofrimentos e utiliza seu poder transcendental para ajudar a todos que sofrem.

O Sutra de Kanzeon e o Sutra do Coração são muito populares e bastante apreciados no Japão.
No meu entendimento o Sutra do Coração e o Sutra de Kanzeon são complementares, um inclui e completa o outro.
O Sutra do Coração fala de sabedoria, partindo da experiência de iluminação, trata do princípio da vacuidade, da noção de KU (sunyata), do vazio inerente a todas as coisas e da possibilidade de transcendermos os sofrimentos com o entendimento dessa máxima.

O mundo fenomenal como o conhecemos não possui uma existência real, são ilusões, verdadeiros conjuntos e agregações de inúmeras coisas, que enquanto seguindo certa ordem assim se manifestam, logo depois se transformando, mudando e se adequando as novas reuniões físicas e mentais.

O Sutra do Coração deixa claro, sem que reste a menor sombra de dúvida de que não existe estabilidade em nada, ou como o próprio Sutra prefere dizer, tudo é vazio e esse vazio possibilita o surgimento de todas as coisas.

Já o Sutra de Kanzeon, parte do pressuposto que aquele que o recita já entendeu o princípio do vazio inerente a todas as coisas, deste modo, passa a falar do amor incondicional e da compaixão ilimitada que o Budha nutre por todos os seres. 
Kanzeon em suas representações físicas (imagens, desenhos, pinturas etc.) sempre aparece demonstrando grande doçura, ao contrário, por exemplo, do Bodisatva Manjuris, que é representado sentado em cima de um leão, ou do Fudo Myo que possui um aspecto carrancudo e terrível, sempre segurando uma espada que utiliza para combater os detratores do Dharma.
A escola Soto Zen tem o Bodisatva Kanzeon como uma figura essencial em seu panteão de Budhas e Bodisatvas.
Fala-se muito de Bodisatvas, vamos ver o que quer dizer a separação dos kanjis dessa palavra.
Bodhi: Aquele que despertou, mas continua entre nós com o objetivo de ajudar a todos.
Satva: Vivente.
Bodisatva: Um Budha vivo, aquele que permanece no estado de perfeita iluminação, aquele que observa e compreende o sofrimento de todos os seres e atua no mundo em prol da libertação de todos.

Não percam a parte 4. 

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