Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O Budismo e as Artes Marciais

Primeira parte:

Não passa desapercebido para nenhuma pessoa que tenha algum interesse pela cultura oriental e nem mesmo a um desinteressado turista ocasional, que visita os países orientais, o fato de que o Budismo se tornou a base do desenvolvimento da cultura e da ética sócio-religiosa de praticamente todo o extremo oriente, especificamente do Japão.

Seria impossível a qualquer pessoa que tome contato com qualquer aspecto da cultura japonesa, deixar de notar a influência do Zen Budismo, nos fatos históricos, na arquitetura tradicional, na literatura, nas artes plásticas, artes marciais, artes sociais (“Ikebana”, cerimônia do chá, etc.) e na ética social japonesa. Também o folclore e a música clássica japonesa têm sua marca budista bem viva e até mesmo muitos dos feriados nacionais japoneses são datas marcadas pelo calendário budista.

Podemos observar também essa influência marcante da cultura budista na formação sócio-cultural japonesa, em aspetos como a introdução da escrita ideográfica chinesa (“Kanji”), através dos textos sagrados budistas (“Sutras”) e também no desenvolvimento e codificação dos “alfabetos” fonéticos simplificados (“Kaná”). E ainda, em aspectos legislativos, como por exemplo, o fato da primeira constituição japonesa, elaborada sob os auspícios do príncipe Shôtoku (573-621), ter tido influência estrutural do “Código de Manu”, de origem indiana, introduzido no Japão pelos primeiros monges budistas.

Também no Brasil, o papel do Budismo como fator de união sócio-cultural dos imigrantes japoneses é marcante em todos os grandes centros de aglutinação niponica e descendentes, influenciando também outros setores da sociedade ocidental. Podemos perceber isso claramente em movimentos conhecidos como “cultura alternativa”, que englobam desde a chamada “medicina alternativa” e artes marciais.

Mais especificamente no campo das Artes Marciais, alguns aspectos precisam ser esclarecidos para que se tenha uma ampla visão desse conjunto.

Muitos ocidentais ao tomarem contato com a cultura oriental através de filmes largamente divulgados pelo cinema e televisão, como os de Kung-Fu, Samurais, Ninjas e etc., acabam tendo uma impressão de que Budismo e Artes Marciais são inseparáveis e que todos os monges budistas seriam “experts” nessas artes, o que não passa de pura ilusão cinematográfica. Mas, ao mesmo tempo, o desenvolvimento das artes marciais do extremo oriente acabaram por fixar indeléveis conceitos budistas que vieram a se tornar inseparáveis da própria conduta de seus praticantes.

Conta-se que o próprio Buda Shakyamuni, em sua juventude, vivendo ainda como príncipe do povo dos Shákyas, ao sopé da cordilheira do Himalaia, foi adestrado nas artes de guerra, como luta corporal, arco-e-flecha, manuseio de bastão, lança e outras armas próprias de sua época. Entretanto, após ter atingido sua iluminação aos 35 anos de idade, pregou sempre um caminho de paz, harmonia e principalmente a não-violência (ahimsa).

Na China, muitos são os que atribuem a Bodhidharma (o introdutor do Zen Budismo, nesse país) a criação do Kung-Fu.

Outra arte marcial largamente difundida na China e praticada em muitos templos budistas é o Tai-Chi-Chuan, que é de origem Taoísta, mas que, assim como este último, foi sincretizado pelo sistema budista, nesse país.

O Budismo japones foi importado da China e da Coréia, sem trazer esses aspectos marciais. Mas, com o desenvolvimento histórico, grande foi o número de guerreiros da classe dos samurais que afluíam aos templos budistas, principalmente das escolas Zen e Jôdo (Terra Pura), buscando apoio espiritual, e chegando a existir uma categoria de monges guerreiros (Sôhei) em monastérios como os da Escola Tendai. Assim acabou se dando o nascimento de um conceito japonês de arte marcial que até hoje em dia é indissociável do Budismo.

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