Saudações:

Em homenagem e reverência profunda à minha Mestra de Ordenação e Treinamento, Venerável Shingetsu Coen Osho.
Que seu Corpo-Dharma, seja como um diamante inquebrantável.
Que tenha próspera longevidade e saúde ilimitada.
Que nenhum mal a atinja.
Que todos os seus esforços sejam recompensados.

domingo, 30 de junho de 2013

ATENÇÃO:
Estaremos temporariamente fechados ate conseguirmos outro lugar para darmos continuidade. 
Gassho.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Fukanzazengui - parte 9

“... nosso corpo e nossa mente são naturalmente transcendidos...”
Dogen refere-se aqui à expressão shin jin datsu raku, frequentemente traduzido por “abandonar” ou “rejeitar corpo e mente”.
Ir além do corpo e da mente.
Taisen Deshimaru preferia usar a expressão: ‘derrubar corpo e mente’.
No Shobogenzo, Dogen definirá essa expressão dizendo que quando todos os seres sencientes tornam-se Budas, o corpo e a mente caem naturalmente.
Kodo Sawaki, definia a expressão shin jin datsu raku como ‘abandonar o que está dentro e o que está fora’.
   Numa referência a uma passagem com Mestre Nyojo, Dogen diz:
‘Mestre Nyojo não se irritava frequentemente. Mas se por acaso os monges estivessem praticando incorretamente, ele ficava verdadeiramente furioso’.
Um dia, no dojo, um monge, ao lado de Dogen adormeceu durante o zazen.
Furioso, Nyojo golpeia violentamente o dorminhoco com sua sandália e grita: "Shin jin datsu raku!" - Abandone corpo e mente...
Dogen ao assistir esse episódio chega a chorar de emoção.
Depois Dogen vai aos seus aposentos e repete ao mestre a mesma frase: 
“Corpo e mente abandonados”...
Nyojo, tendo percebido a realização de Dogen responde simplesmente:
  “Corpo e mente foram abandonados”
  
“…Se almejamos realizar a sabedoria de Buda, devemos começar a praticar imediatamente...”
Dogen continua a falar da importância da prática do zazen.
Com essa frase ele quer dizer, "Deveis praticar o zazen sem demora. Aqui e agora".
   Devemos começar com o que temos e somos.
   Sem demora.
   Na nossa escola, sentamos como Bodidharma, diantes de uma parede.
   Não cortamos nossos pensamentos nem fugimos deles.
   Nos sentamos em zazen sem nada querer, sem nada desejar o que quer que seja.
   Apenas nos sentamos o mais que pudermos.
   É o Zazen sem finalidade.
 Se praticarmos zazen com uma finalidade, ainda que pequenina, quase invisível, esse zazen não é o verdadeiro.
 Mas!!! Todos desejamos praticar o zen com alguma finalidade.
Temos uma necessidade imperiosa de achar razões para tudo que fazemos.
   Temos medo de que quando formos falar do zen, o que dizer...
 - Quer dizer que você pratica o Zen... Afinal o que é esse tal de Zen...nos pergunta alguém...
   Pronto! Ficamos imediatamente com cara de cachorro que caiu da mudança... O que responder...
   É preciso compreender que o zen é própria vida quotidiana; de outra forma, essa prática não teria o menor sentido.
O ensinamento zen é justamente de como viver neste mundo, nesta vida comum.

 “…Para fazer zazen, é desejável um local tranquilo...”
   O local de prática, não deve ser muito iluminado nem muito escuro, nem muito frio nem muito quente, nem seco nem úmido.
Todo Zendo é desprovido de quadros, flâmulas, som ambiente e luz excessiva, a prática zen requer concentração. Estímulos sensoriais fazem a mente se perder.
Possuímos uma série de ‘janelas’ abertas para o meio, estruturas que colocam o sistema nervoso em contato com os estímulos provenientes do ambiente: cheiro, imagens, sons, etc.
   Essas estruturas são os órgãos sensoriais. As informações referentes ao ambiente são percebidas por esses órgãos dos sentidos e continuamente enviadas ao encéfalo, na forma de impulsos nervosos. Esses órgãos sensoriais são transdutores, convertem uma forma de energia (som, luz, calor, etc.) em outra (impulso nervoso).
Ora! Se existem muitos estímulos o corpo não consegue relaxar e a mente, continuamente agredida com imagens, sons, cheiros, calor, frio etc não consegue repousar em si mesma, por isso Dogen adverte para que o local seja tranqüilo, agradável e tenha o mínimo de atrativos, sejam eles auditivos, visuais ou olfativos..

“...Devemos ser moderados no comer e no beber, abandonando todo relacionamento deludido...”
   Não devemos comer demais.
   Se comemos muito, adormeceremos facilmente.
   Não devemos nos sentar com muita fome.
   Se estamos com fome a necessidade de sobrevivência fala mais alto.
   Não devemos ingerir muito líquido.
 Se o fizermos ficaremos indispostos, enjoados.
   Devemos abandonar todos os pensamentos.
A prática do zazen consiste apenas em tornar-se presente na experiência de ser.
Não se trata de algo que se adquire depois de encerrado o período de zazen.
Não se trata de um conceito do processo mas, sim, de concentrar-se no próprio processo.
Desperto é aquele que se encontra ‘presente’ no presente. Que se encontra aqui-e-agora, que sabe que (seja lá o que for) só pode acontecer nesse ‘agora’, não ontem ou amanhã.
A vida real é agora, nesse exato momento...
 
“...Deixando tudo de lado, não pensemos nem no bem, nem no mal, nem no certo, nem no errado...”
za” significa sentar.
“zen” significa percepção consciente do aqui-e-agora.
“Zazen” significa sentar em profunda percepção consciente do que acontece dentro e fora do corpo.
 “Shikan” significa sinceridade.
“Taza” significa unir-se ao ato de estar apenas sentado.
  Shikantaza” significa sentar-se apenas, sem dualidades, sem adjetivar, sem conceituar.
Não precisamos alimentar a mente com coisa nenhuma... Ela não precisa ser nutrida.
As impressões que nos chegam pelos sentidos já são suficientes.

Aguardem a parte 10.

 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012


PALESTRA e RETIRO ZEN com o Monge Ryozan
No Recife e em Aldeia-PE - 6 a 9 de setembro de 2012

1 – Palestra: O ZEN NA VIDA COTIDIANA
Quinta-feira, dia 6 de setembro, às 19h30
O Zen é um Caminho. Uma forma de estar no mundo. Permanecer plenamente presente em todos os momentos da vida, grandiosos ou pequeninos, alegres ou dolorosos, é o grande desafio da prática Zen e o portal para a libertação de todo o sofrimento.
É sobre isto que falará o Monge Ryozan, discípulo da Monja Coen Roshi, orientador de meditação no Espaço Oásis e para dependentes químicos no Recanto Vida Nova, em São Paulo.
Livraria Jaqueira - Rua Antenor Navarro, 138 Jaqueira – Recife – PE.
(Esquina com a Rua do Futuro, junto ao Parque da Jaqueira) Tel.: 81-3265.9455
Inscrição no local
Contribuição sugerida: R$ 20,00


Fukanzazengui - parte 8.
“...Devemos parar de correr atrás de palavras e de letras e aprendermos a nos retirar e refletir sobre nós mesmos...”
 “...Quando assim fazemos, nosso corpo e nossa mente são naturalmente transcendidos, e nossa naturezaBuda original se manifesta...”.
 Nesse parágrafo, Dogen fala sobre a importância de não se prender ao que está escrito, mas deixar que a mente se manifeste livremente.
 Palavras não são nada mais que conceitos, até mesmo Dogen usa as palavras para dizer isso.
 No Shinjinmei: está escrito:
‘É lá que se rompe o caminho da linguagem. Não há mais passado nem futuro’.

Perguntaram ao Buda: - Porque os ignorantes fazem discriminações e os sábios, não?
 Buda respondeu: - Porque os ignorantes prendem-se à palavra, aos nomes, aos sinais, aos conceitos.
 Não nos sentamos em zazen para chegar a algum lugar, ou conseguir alguma coisa...
Para atingir algum estado de beatitude, ou algum tipo de poder cósmico...
 Praticamos, para nos religarmos a vida...
 Para retornar ao Universo do qual fazemos parte.
 Quando no sentamos com a mente livre e desapegada, já conseguimos...
 Já estamos lá...   somos Budas... Nos tornamos um com o universo.
 No Shobogenzo - Capítulo 62 – Sansuikyo - “A Escritura das Montanhas e das Águas” está escrito:
"Todos os Dharmas estão livres e desapegados, e não estão fixos em lugar algum. Devemos estar conscientes disto, que todos os Darmas estão livres e sem apegos; mas eles apesar disto mantêm seus estados verdadeiros.  Quando seres humanos observam a água eles podem enxergar apenas um tipo de fluxo.  Existem muitos tipos de fluxo, mas os seres humanos podem enxergar apenas um tipo. Por exemplo, a terra e o céu estão num estado de fluxo permanente, as curvas do rio fluem, os poços de água mais profundos fluem; acima das nuvens e no leito dos rios todas as coisas estão em fluxo.”
 O que Mestre Dogen transmitiu, foi esta ligação com a realidade, esta volta à vida cotidiana, o que é muito útil para nós que vivemos tantos séculos depois, e temos dificuldade de levar uma vida exclusivamente de mosteiro, como monges retirados.
Somente podemos fazer sesshins e treinamentos, mas não conseguimos cortar os laços com o mundo como os monges de antigamente, precisamos pagar a escola do filho, o plano de saúde, a água, a luz etc.
 Nem dentro, nem fora.
 Quando não estivermos mais presos às palavras, à letras, às formas, nossa face original poderá então surgir.
Quando retirarmos todos os véus a verdadeira natureza aparece.
Ao chegar ao templo, o mestre Zen pergunta:
 De onde vens?
Normalmente vamos responder com o nome da localidade de onde viemos...
 Se o mestre é suave e compreensivo, talvez lhe responda:
 Não me entendestes, mas isso não tem importância... Pode entrar.
Um mestre severo, enxotará o monge:
- Vai-te embora! Você não conhece o caminho!
Estudos da Universidade de Harvard demonstraram que em média de 60% a 90% das consultas médicas poderiam ser evitadas, caso as pessoas usassem sua capacidade mental para combater de forma natural o estresse, as aflições, as tensões e os medos que são os causadores dos problemas físicos e mentais.
   Zazen é a maneira mais efetiva de disciplinar a mente.
O cérebro usa o tempo em que a mente está calma, pacificada e em silêncio para estabelecer novas conexões, gerar novas idéias, estabelecer novos parâmetros e se desvencilhar de crenças anacrônicas.
 O estresse é o grande mal da modernidade.
 É impossível fugir dele, mas é possível alterar o eixo de referência das situações externas trazendo-o para dentro de nós.
Quando a mente se aquieta, o corpo a acompanha e vice-versa – Segredo do Tostines...

 
Fukanzazengui - Parte 7.
“...Já que esses antigos sábios eram tão diligentes, como podem os praticantes dos dias atuais deixarem de praticar zazen?...”
Os ‘antigos sábios’, de que trata o texto são os ancestrais.
Os antigos sábios possuíam tanta realização advinda da prática ininterrupta do zazen que várias são as passagens.
Para o Mestre Dogen, os "antigos sábios" foram, entre outros, os patriarcas Bodidarma, Eno, Obaku, Hyakujo e Rinzai.
Tem uma passagem do Shobogenzo, onde Mestre Dogen fala desses mestres:
‘Obaku era um Buda antigo, além do tempo, muito superior a Hyakujo e muito mais fino que Baso. Rinzai, em comparação, era bem pequeno’.
Então segundo Dogen, Obaku era ‘superior a Hyakujo’, ‘mais fino’ que Baso e pertencia a uma categoria mais elevada que Rinzai.
Então, Obaku era o ‘Cara’ o ‘Best of the best’ (imagino a expressão que a sensei vai fazer ao escutar isso, ainda bem que ela não costuma nos bater...)
Ele viveu em uma época de forte repressão ao budismo pelo Imperador.
O zen não era particularmente visado porque os monges nada possuíam, nem dinheiro nem mosteiros, mas apenas velhos templos onde praticavam zazen.
Obaku sempre que podia debochava dessa repressão.
Existe uma passagem com o Mestre Obaku onde podemos perceber a sua força.
O príncipe Senso praticava no mesmo local que Obaku.
Um dia em que Obaku fazia fudosampai (três prostrações), o príncipe Senso lhe pergunta:
- Porque você se prostra diante dos Três Tesouros? Para que servem os rituais quando devemos estar desapegados de tudo?
Obaku se levanta e lhe dá uma bofetada, Tcham!
O príncipe Senso, com a face corada, fala com a voz indignada:
- Então é assim que se manifesta um ser desperto?!
Obaku lhe dá uma segunda bofetada, Tchum!
- Realmente você é muito grosseiro! Diz o príncipe Senso.
Obaku lhe desfere uma terceira bofetada – Tcha!  e retruca:
- Que tal essa, lhe parece grosseira ou refinada?
É importante que se saiba que Obaku tinha quase o dobro da estatura do príncipe. Então podemos imaginar que cada tapa deve ter doído pacas.
Consta que a graças a força da última bofetada, o príncipe Senso obteve uma grande percepção.
Obaku, naquela época ainda era um discípulo. Na data do ocorrido, ele era shuso do templo.
Levando-se em conta que Obaku não era o mestre de Senso e que este era nada mais nada menos que o filho do imperador da China e que iria suceder o trono, vamos combinar que distribuir-lhe bofetadas não era um bom meio de obter favores da hierarquia.
Essa passagem demonstra claramente que Obaku não era um monge comum, exatamente por isso Dogen o respeitava tanto.
Apenas como ilustração: Mestre Eka, era um açougueiro. Doshin, dormia com as vacas. Eno, o sexto patriarca rasgava os sutras (existe um quadro famoso onde se pode vê-lo em plena ação). Eno, dizia que a verdade não se encontra no papel mesmo que, apesar disso, seja importante compreender o que nele está escrito.
Nos dias de hoje, o gesto de Eno seria tomado como vandalismo e o tapa de Obaku uma agressão.
Não fazemos mais zazen como antigamente, por isso somos tão fracos...
Fazemos meia horinha de zazen uma vez por dia e achamos que está bom demais...
A maioria pratica apenas uma ou duas vezes por semana.
Isso em falar de modismos como o da menina ao lado.
Que possamos nos lembrar do mestre que mandou seus alunos continuarem a praticar mesmo depois que uma parte do teto do templo caiu.